Leia um trecho da crônica A carta, de Rubem Braga.
Existe, no jornal em que trabalho, como existe em muitos jornais, um redator essencialmente agrícola. É um homem encarregado de explicar diariamente aos seus leitores qual o melhor meio de plantar batatas. Recebe do interior misteriosos embrulhinhos registrados, contendo lagartas, pedacinhos de raízes e punhados de terra, para opinar sobre esses objetos. E opina. É um ofício heroico, remediar a distância a dor de barriga de um porco ou matar os insetos que atacam um pé de abacate situado a novecentos e cinquenta quilômetros da redação do jornal.
Na sua correspondência de hoje, o meu colega recebeu uma carta que o deixou profundamente triste. Passou-a à minha mesa, dizendo que eu devo respondê-la. Na sua opinião, eu sou um literato, e a carta é de literata. Veio de Lençóis. Quem a assina [...] é uma senhorita que, estando profundamente sem ter o que fazer, diverte-se escrevendo cartas anônimas a todos os jornalistas. [...]
Creio que mora em alguma fazenda, onde se entrega à contemplação da natureza e à leitura de bons livros. Ela mandou dizer ao meu colega agrícola [...] que está procurando se consolar, no campo, das mágoas que a cidade lhe causou. E pede conselhos minuciosos a respeito.
(Apud Paulo Elias Allane Franchetti e Antônio Alcir Bernardez Pecora. Rubem Braga (Literatura comentada), 1980. Adaptado.)
Levando-se em consideração esse trecho, depreende-se que as crônicas, em geral,