No manuscrito B do Instituto de França, o leitor encontra [...] um elegante desenho de edifícios e ruas flanqueadas por pórticos. Embaixo pode ser lida, delineada em traços rápidos no estilo lapidar de Da Vinci, a imagem da cidade ideal: construída de perto do mar ou ao longo de um rio, para que seja salubre e limpa. Será edificada em andares que se comunicam por meio de escadarias. Quem quiser percorrer todo o piso superior, poderá fazê-lo sem precisar descer, e vice-versa. O tráfego de veículos e de mulas de carga será feito no plano inferior, no qual estarão situadas as lojas e serão realizados os negócios.
(Eugenio Garin. Ciência e vida civil no Renascimento italiano, 1996.)
Na breve descrição da cidade ideal de Da Vinci, avigura-se uma preocupação em
Leia o poema "Queixa-se o poeta da plebe ignorante e perseguidora das virtudes", de Gregório de Matos, para responder à questão.
Que me quer o Brasil, que me persegue?
Que me querem pasguates1 que me invejam?
Não veem que os entendidos me cortejam,
E que os nobres é gente que me segue?
Com seu ódio a canalha que consegue?
Com sua inveja os néscios2 que motejam3?
Se quando os néscios por meu mal mourejam4,
Fazem os sábios que a meu mal me entregue.
Isto posto, ignorantes e canalha,
Se ficam por canalha, e ignorantes
No rol das bestas a roerem palha:
E se os senhores nobres e elegantes
Não querem que o soneto vá de valha5.
Não vá, que tem terriveis consoantes6.
(José Miguel Wisnik (org.). Poemas escolhidos, 2010.)
1 pasguate: imbecil.
2 néscio: ignorante.
3 motejar: escarnecer.
4 mourejar: esforçar-se.
5 in de valha: in além do que está registrado.
6 consoantes: rimas em que todos os sons são idênticos.
Nesse poema, o eu lírico expõe
Leia o poema "Queixa-se o poeta da plebe ignorante e perseguidora das virtudes", de Gregório de Matos, para responder à questão.
Que me quer o Brasil, que me persegue?
Que me querem pasguates1 que me invejam?
Não veem que os entendidos me cortejam,
E que os nobres é gente que me segue?
Com seu ódio a canalha que consegue?
Com sua inveja os néscios2 que motejam3?
Se quando os néscios por meu mal mourejam4,
Fazem os sábios que a meu mal me entregue.
Isto posto, ignorantes e canalha,
Se ficam por canalha, e ignorantes
No rol das bestas a roerem palha:
E se os senhores nobres e elegantes
Não querem que o soneto vá de valha5.
Não vá, que tem terriveis consoantes6.
(José Miguel Wisnik (org.). Poemas escolhidos, 2010.)
1 pasguate: imbecil.
2 néscio: ignorante.
3 motejar: escarnecer.
4 mourejar: esforçar-se.
5 in de valha: in além do que está registrado.
6 consoantes: rimas em que todos os sons são idênticos.
Entre as características do Barroco, destaca-se nesse poema
Leia o poema "Queixa-se o poeta da plebe ignorante e perseguidora das virtudes", de Gregório de Matos, para responder à questão.
Que me quer o Brasil, que me persegue?
Que me querem pasguates1 que me invejam?
Não veem que os entendidos me cortejam,
E que os nobres é gente que me segue?
Com seu ódio a canalha que consegue?
Com sua inveja os néscios2 que motejam3?
Se quando os néscios por meu mal mourejam4,
Fazem os sábios que a meu mal me entregue.
Isto posto, ignorantes e canalha,
Se ficam por canalha, e ignorantes
No rol das bestas a roerem palha:
E se os senhores nobres e elegantes
Não querem que o soneto vá de valha5.
Não vá, que tem terriveis consoantes6.
(José Miguel Wisnik (org.). Poemas escolhidos, 2010.)
1 pasguate: imbecil.
2 néscio: ignorante.
3 motejar: escarnecer.
4 mourejar: esforçar-se.
5 in de valha: in além do que está registrado.
6 consoantes: rimas em que todos os sons são idênticos.
A classificação desse poema de Gregório de Matos como soneto deve-se
Leia o trecho da obra o Ateneu, de Raul Pompeia, para responder à questão.
O Dr. Aristarco Argolo de Ramos [...] enchia o Império com o seu renome de pedagogo. Eram boletins de propaganda pelas províncias, conferências em diversos pontos da cidade, a pedidos, à sustância, atochando a imprensa dos lugarejos, caixões, sobretudo, de livros elementares [...] em que o nome de Aristarco, inteiro e sonoro, oferecia-se ao pasmo venerador dos esfaimados de alfabeto dos confins da pátria. [...] E não havia senão aceitar a farinha daquela marca para o pão do espírito. E engordavam as letras, à força, daquele pão. Um benemérito. Não admira que em dias de gala, íntima ou nacional, festas do colégio ou recepções da coroa, o largo peito do grande educador desaparecesse sob constelações de pedraria, opulentando a nobreza de todos os honoríficos berloques²
[...] Aristarco todo era um anúncio. Os gestos, calmos, soberanos, eram de um rei o autocrata excelso dos silabários; a pausa hierática³ do andar deixava sentir o esforço, a cada passo, que ele fazia para levar adiante, de empurrão, o progresso do ensino público; o olhar fulgurante, sob a crispação áspera dos supercílios de monstro japonês, penetrando de luz as almas circunstantes - era a educação da inteligência; o queixo, severamente escanhoado, de orelha a orelha, lembrava a lisura das consciências limpas era a educação moral. A própria estatura, na imobilidade do gesto, na mudez do vulto, a simples estatura dizia dele: aqui está um grande homem... não veem os côvados4 de Golias?! Retorça-se sobre tudo isto um par de bigodes, volutas macicas de fios alvos, torneadas a capricho, cobrindo os lábios, fecho de prata sobre o silêncio de ouro, que tão belamente impunha como o retraimento fecundo do seu espírito, teremos esboçado, moralmente, materialmente, o perfil do ilustre diretor. Em suma, um personagem que, ao primeiro exame, produzia-nos a impressão de um enfermo, desta enfermidade atroz e estranha: a obsessão da própria estátua.
(O Ateneu, 2013.)
1 esfaimado: que tem fome.
2 berloque: pingente.
3 hierática: sagrada.
4 côvado: medida de comprimento.
No trecho, o narrador caracteriza Aristarco, o diretor do colégio Ateneu, como
Leia o trecho da obra o Ateneu, de Raul Pompeia, para responder à questão.
O Dr. Aristarco Argolo de Ramos [...] enchia o Império com o seu renome de pedagogo. Eram boletins de propaganda pelas províncias, conferências em diversos pontos da cidade, a pedidos, à sustância, atochando a imprensa dos lugarejos, caixões, sobretudo, de livros elementares [...] em que o nome de Aristarco, inteiro e sonoro, oferecia-se ao pasmo venerador dos esfaimados de alfabeto dos confins da pátria. [...] E não havia senão aceitar a farinha daquela marca para o pão do espírito. E engordavam as letras, à força, daquele pão. Um benemérito. Não admira que em dias de gala, íntima ou nacional, festas do colégio ou recepções da coroa, o largo peito do grande educador desaparecesse sob constelações de pedraria, opulentando a nobreza de todos os honoríficos berloques²
[...] Aristarco todo era um anúncio. Os gestos, calmos, soberanos, eram de um rei o autocrata excelso dos silabários; a pausa hierática³ do andar deixava sentir o esforço, a cada passo, que ele fazia para levar adiante, de empurrão, o progresso do ensino público; o olhar fulgurante, sob a crispação áspera dos supercílios de monstro japonês, penetrando de luz as almas circunstantes - era a educação da inteligência; o queixo, severamente escanhoado, de orelha a orelha, lembrava a lisura das consciências limpas era a educação moral. A própria estatura, na imobilidade do gesto, na mudez do vulto, a simples estatura dizia dele: aqui está um grande homem... não veem os côvados4 de Golias?! Retorça-se sobre tudo isto um par de bigodes, volutas macicas de fios alvos, torneadas a capricho, cobrindo os lábios, fecho de prata sobre o silêncio de ouro, que tão belamente impunha como o retraimento fecundo do seu espírito, teremos esboçado, moralmente, materialmente, o perfil do ilustre diretor. Em suma, um personagem que, ao primeiro exame, produzia-nos a impressão de um enfermo, desta enfermidade atroz e estranha: a obsessão da própria estátua.
(O Ateneu, 2013.)
1 esfaimado: que tem fome.
2 berloque: pingente.
3 hierática: sagrada.
4 côvado: medida de comprimento.
Verificam-se em O Ateneu traços do Realismo e do Naturalismo.
Um traço de estética naturalista que se sobressai no livro transcrito é