Ginástica sintática
Pesquisadores de neurociência da Universidade Johns Hopkins, nos EUA, publicaram há pouco, na revista “Plos One”, sua descoberta de que, quando os músicos de jazz improvisam sobre uma melodia — criando contra melodias sobre uma base harmônica comum —, estão ativando uma área do cérebro associada à sintaxe, não à semântica. Ou seja, não produzem conteúdos, mas estruturas. O estudo, que utilizou testes de ressonância magnética, visa a mapear o papel do cérebro na criatividade.
A quase 100 anos da gravação do primeiro disco do gênero (“Livery Stable Blues”, pela Original Dixieland Jazz Band, em 1917), o achado não me soa como grande novidade. De certa maneira, todos nós, fãs de jazz, já nascemos sabendo disso. O que seria o improviso coletivo de Nova Orleans senão uma deliciosa conversa de comadres significando nada? E o concerto no Massey Hall, de Toronto, em 1953? Charlie Parker e Dizzy Gillespie, rompidos havia anos, não tiveram de fazer as pazes para falar jazzês e se complementar magistralmente em “Perdido”, “Hot House” e “A Night in Tunisia”.
O estudo diz avançar sobre uma pesquisa iniciada em 2008 e publicada na mesma revista, segundo a qual, quando os jazzistas improvisam, seus cérebros “desligam” os controles de censura e autoinibição, e “ligam” os que liberam a expressão — o que não aconteceria se tocassem um “conteúdo”, uma melodia conhecida e sem variações.
(Ruy Castro. Folha de S.Paulo, 08.03.2014. Adaptado.)
De acordo com o texto, é correto afirmar que o autor