Meu caro Drummond
Antes de mais nada: você é muito inteligente, puxa! A sua carta é simplesmente linda. E tem uma coisa que não sei se você
notou. A primeira vinha um pouco de fraque. A segunda era natural que viesse de paletó-saco. Mas fez mais. Veio fumando, de
chapéu na cabeça, bateu-me familiarmente nas costas e disse: Te incomodo? Eu tenho uma vaidade: a deste dom de envelhecer
depressa as camaradagens. Pois, camarada velho, sente-se aí e vamos conversar. Olhe, você não repare se vou escrever sintético. É
que de verdade mesmo não posso me estender nas minhas cartas. Não tenho tempo pra nada, de tal forma estou ocupado. [...]
...e ainda não falei nos seus versos... Gostei. Gostei francamente, embora a sua prosa por enquanto seja mais segura que
seus versos. [...]
Como pratico com o Manuel Bandeira e o Luís Aranha, e eles comigo, mando-te os teus versos com algumas sugestões. Mas
quero que eles voltem pra mim. Preciso deles em minha casa enquanto não se publicam.
E até logo. Lembranças aos amigos.
Um abraço do coração.
Mário de Andrade.
Obs.: paletó-saco = paletó mais informal. (ANDRADE, Mário de. A lição do amigo: cartas de Mário de Andrade a Carlos Drummond de Andrade, anotadas pelo destinatário. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1982. p. 11, 16 e 17)
É correto afirmar: