Leia o poema de José Paulo Paes para responder à questão.
Momento
Visto assim do alto
no cair da tarde
o automóvel imóvel
sob os galhos da árvore
parece estar rumo
a algum outro lugar
onde abolida a própria
ideia de viagem
as coisas pudessem
livremente se entregar
ao gosto inato
da dissolução − e é noite.
(O melhor poeta da minha rua, 2008.)
O eu lírico constrói a imagem deste automóvel como
Leia o conto de Mário Quintana para responder à questão.
Velha história
Era uma vez um homem que estava pescando, Maria. Até que apanhou um peixinho! Mas o peixinho era tão pequenininho e inocente, e tinha um azulado tão indescritível nas escamas, que o homem ficou com pena. E retirou cuidadosamente o anzol e pincelou com iodo a garganta do coitadinho. Depois guardou-o no bolso traseiro das calças, para que o animalzinho sarasse no quente. E desde então ficaram inseparáveis. Aonde o homem ia, o peixinho o acompanhava, a trote, que nem um cachorrinho. Pelas calçadas. Pelos elevadores. Pelos cafés. Como era tocante vê-los no “17”! − o homem, grave, de preto, com uma das mãos segurando a xícara de fumegante moca, com a outra lendo o jornal, com a outra fumando, com a outra cuidando do peixinho, enquanto este, silencioso e levemente melancólico, tomava laranjada por um canudinho especial…
Ora, um dia o homem e o peixinho passeavam à margem do rio onde o segundo dos dois fora pescado. E eis que os olhos do primeiro se encheram de lágrimas. E disse o homem ao peixinho:
“Não, não me assiste o direito de te guardar comigo. Por que roubar-te por mais tempo ao carinho do teu pai, da tua mãe, dos teus irmãozinhos, da tua tia solteira? Não, não e não! Volta para o seio da tua família. E viva eu cá na terra sempre triste!…”
Dito isto, verteu copioso pranto e, desviando o rosto, atirou o peixinho n’água. E a água fez redemoinho, que foi depois serenando, serenando até que o peixinho morreu afogado…
(Eu passarinho, 2006.)
O trecho em que a forma verbal sublinhada está no pretérito mais-que-perfeito, indicando uma ação anterior a outra, ambas ocorridas no passado, está na alternativa:
Leia o conto de Mário Quintana para responder à questão.
Velha história
Era uma vez um homem que estava pescando, Maria. Até que apanhou um peixinho! Mas o peixinho era tão pequenininho e inocente, e tinha um azulado tão indescritível nas escamas, que o homem ficou com pena. E retirou cuidadosamente o anzol e pincelou com iodo a garganta do coitadinho. Depois guardou-o no bolso traseiro das calças, para que o animalzinho sarasse no quente. E desde então ficaram inseparáveis. Aonde o homem ia, o peixinho o acompanhava, a trote, que nem um cachorrinho. Pelas calçadas. Pelos elevadores. Pelos cafés. Como era tocante vê-los no “17”! − o homem, grave, de preto, com uma das mãos segurando a xícara de fumegante moca, com a outra lendo o jornal, com a outra fumando, com a outra cuidando do peixinho, enquanto este, silencioso e levemente melancólico, tomava laranjada por um canudinho especial…
Ora, um dia o homem e o peixinho passeavam à margem do rio onde o segundo dos dois fora pescado. E eis que os olhos do primeiro se encheram de lágrimas. E disse o homem ao peixinho:
“Não, não me assiste o direito de te guardar comigo. Por que roubar-te por mais tempo ao carinho do teu pai, da tua mãe, dos teus irmãozinhos, da tua tia solteira? Não, não e não! Volta para o seio da tua família. E viva eu cá na terra sempre triste!…”
Dito isto, verteu copioso pranto e, desviando o rosto, atirou o peixinho n’água. E a água fez redemoinho, que foi depois serenando, serenando até que o peixinho morreu afogado…
(Eu passarinho, 2006.)
“Mas o peixinho era tão pequenininho e inocente, e tinha um azulado tão indescritível nas escamas, que o homem ficou com pena.”
No contexto em que está inserida, a oração sublinhada indica uma
Leia o poema de José Paulo Paes para responder à questão.
Momento
Visto assim do alto
no cair da tarde
o automóvel imóvel
sob os galhos da árvore
parece estar rumo
a algum outro lugar
onde abolida a própria
ideia de viagem
as coisas pudessem
livremente se entregar
ao gosto inato
da dissolução − e é noite.
(O melhor poeta da minha rua, 2008.)
“parece estar rumo
a algum outro lugar”
A alternativa que, substituindo o segmento sublinhado, utiliza corretamente o sinal indicativo de crase é:
Leia o trecho inicial da crônica “Os últimos lírios no estojo de seda”, de Marina Colasanti, para responder à questão.
Quando Jung Chang, escritora e historiadora que acaba de publicar uma impressionante biografia de Mao, esteve no Rio para o lançamento do seu livro Cisnes Selvagens, começou a palestra na Casa Laura Alvim por um gesto: da pasta preta tirou um sapatinho de seda bordado que havia sido da sua avó, e a braçadeira que ela mesma havia usado como guarda vermelha da Revolução Cultural. O sapatinho tinha pouco mais de dez centímetros.
Provavelmente, ela não sabia que, na China, o fotógrafo Li Nam já havia começado a fazer o registro dos san-tsu-gin-lian, ou “lírios dourados de oito centímetros”, como eram chamados os pés femininos encolhidos. Agora Li Nam acaba de inaugurar a sua exposição em uma galeria fotográfica em Pequim, e em aproximadamente cinquenta fotos mostra à nova China “A última geração de mulheres de pés de lírio”.
A avó de Jung Chang quase escapou de pertencer a essa geração. Poucos anos bastaram para que seu destino fosse andar pelo resto da vida “parecendo um broto de salgueiro na brisa da primavera”. Mas aos dois anos de idade, quando a mãe dobrou para trás os dedos dos seus pés e os prendeu com uma tira de pano de seis metros de comprimento, não podia saber que o processo tinha a sua origem num gesto poético. Ninguém lhe disse que dez séculos antes, em busca de um sofisticado prazer, Li Yu, grande poeta do amor e segundo soberano da dinastia dos Tang, havia obrigado sua favorita Yaoniang a enfaixar os pés para dançar sobre uma flor de lótus estilizada. E, se tivessem dito, teriam de acrescentar que ele não havia quebrado o arco dos pés da amada com uma pedra, como fizeram com a menininha, nem haviam molhado a tira de pano, para que encolhesse ao secar, aumentando o aperto e o sofrimento.
(Crônicas para jovens, 2012).
O elemento típico do gênero “crônica” que caracteriza este texto é
Leia o trecho inicial da crônica “Os últimos lírios no estojo de seda”, de Marina Colasanti, para responder à questão.
Quando Jung Chang, escritora e historiadora que acaba de publicar uma impressionante biografia de Mao, esteve no Rio para o lançamento do seu livro Cisnes Selvagens, começou a palestra na Casa Laura Alvim por um gesto: da pasta preta tirou um sapatinho de seda bordado que havia sido da sua avó, e a braçadeira que ela mesma havia usado como guarda vermelha da Revolução Cultural. O sapatinho tinha pouco mais de dez centímetros.
Provavelmente, ela não sabia que, na China, o fotógrafo Li Nam já havia começado a fazer o registro dos san-tsu-gin-lian, ou “lírios dourados de oito centímetros”, como eram chamados os pés femininos encolhidos. Agora Li Nam acaba de inaugurar a sua exposição em uma galeria fotográfica em Pequim, e em aproximadamente cinquenta fotos mostra à nova China “A última geração de mulheres de pés de lírio”.
A avó de Jung Chang quase escapou de pertencer a essa geração. Poucos anos bastaram para que seu destino fosse andar pelo resto da vida “parecendo um broto de salgueiro na brisa da primavera”. Mas aos dois anos de idade, quando a mãe dobrou para trás os dedos dos seus pés e os prendeu com uma tira de pano de seis metros de comprimento, não podia saber que o processo tinha a sua origem num gesto poético. Ninguém lhe disse que dez séculos antes, em busca de um sofisticado prazer, Li Yu, grande poeta do amor e segundo soberano da dinastia dos Tang, havia obrigado sua favorita Yaoniang a enfaixar os pés para dançar sobre uma flor de lótus estilizada. E, se tivessem dito, teriam de acrescentar que ele não havia quebrado o arco dos pés da amada com uma pedra, como fizeram com a menininha, nem haviam molhado a tira de pano, para que encolhesse ao secar, aumentando o aperto e o sofrimento.
(Crônicas para jovens, 2012).
“Ninguém lhe disse que dez séculos antes, em busca de um sofisticado prazer […]” (3° parágrafo)
O pronome sublinhado refere-se