Texto 1
A linguagem humana
(1) Somos seres que falam: a palavra se encontra no limiar do universo humano. Se criássemos juntos um bebê humano e um macaquinho, não veríamos muitas diferenças nas reações de cada um nos primeiros contatos com o mundo e com as pessoas. O desenvolvimento da percepção, da apreensão dos objetos, do jogo com os adultos se dá de forma similar nos dois.
(2) Em dado momento, porém, por volta dos dezoito meses, o progresso apresentado pelo bebê humano torna impossível prosseguirmos comparando-o ao macaco, em razão da capacidade que o ser humano tem de ultrapassar os limites da vida animal e entrar no mundo do símbolo.
(3) Poderíamos dizer que os animais também têm linguagem. A natureza dessa comunicação, entretanto, não se compara à revolução que a linguagem humana provoca na relação do ser humano uns com os outros e com o mundo. (...)
(4) A linguagem animal não conhece o símbolo, mas somente o índice. O índice está relacionado de forma física e única com a coisa a que se refere. Por exemplo, as frases e os gestos com que adestramos os cães devem ser os mesmos, pois são índices, isto é, indicam alguma coisa muito específica e de forma unívoca. Por outro lado, a linguagem humana se utiliza do símbolo, que é universal, convencional – logo, cultural – versátil e flexível.
(5) A linguagem animal visa à adaptação a uma situação concreta, enquanto a linguagem humana intervém como forma abstrata que nos distancia da experiência vivida e nos torna capazes de reorganizá-la em outro contexto, dando-lhe novo sentido. É pela palavra que somos capazes de nos situar no tempo, para lembrar o que ocorreu no passado, ou antecipar e projetar o futuro que podemos antever.
(6) Se a linguagem, por meio da representação simbólica e abstrata, permite que nos distanciemos do mundo, também é a linguagem o que nos possibilita o retorno a ele para transformá-lo.
(7) Portanto, se não tivermos oportunidade de desenvolver e enriquecer a linguagem, enfraquecemos a nossa capacidade de compreender e agir sobre o mundo que nos cerca.
M. L. A. Aranha; M. H. P. Martins. Filosofando. São Paulo: Moderna, p. 23-24.
Conforme o conteúdo implicado no desenvolvimento do tema, a linguagem humana pode ser percebida como: