Leia o trecho inicial do ensaio “É possível esquecer o futuro?”, de Frédéric Gros, para responder à questão.
“O futuro”, escreve Valéry, “não é mais o que era.” A beleza enigmática dessa frase provém, acredito, de um movimento de superposição e mesmo de confusão entre as dimensões do tempo. Classicamente, poderíamos dizer: o passado era, o presente é e o futuro será. Na frase de Valéry, as dimensões se misturam: o futuro, o que será amanhã, diz ele, não é mais, hoje, o que era outrora. O futuro de hoje não se assemelha mais ao futuro de ontem. Assim, quando Valéry escrevia essa frase, era para testemunhar o sentimento de uma mudança geral e profunda do mundo no qual ele vivia. A frase completa, recordo, é: “Tudo muda, mesmo o futuro não é mais o que era.” A ideia, portanto, é que às vezes há transformações tão consideráveis que até o rosto do futuro é alterado. Hoje também se poderia dizer que mudamos de mundo e de referências. Hoje também mudamos de futuro. Mutação do futuro, portanto.
O futuro sempre foi vivido e pensado como o lugar das incertezas. Aristóteles, por exemplo, falava dos futuros contingentes. Evidentemente, muitos colocaram a questão de saber se essa incerteza estava inscrita nas coisas ou se era apenas o fruto da nossa ignorância. Estará o futuro escrito em alguma parte como uma fatalidade escondida aos olhos dos homens? Ou será que, de fato, nada está previsto de antemão? Seja como for, é essa incerteza que produz, na alma humana, uma oscilação incessante entre a esperança e o temor, uma agitação perpétua entre a confiança e o medo.
(Adauto Novaes (org.). Mutações: o futuro não é mais o que era, 2013.)
O sentido do termo que qualifica o substantivo na expressão “oscilação incessante” (2° parágrafo) aproxima-se daquele que também qualifica o substantivo em