Goethe (1749-1822) sublinhou com justeza que o carnaval é a única festa que o povo se dá a si mesmo, o povo não recebe nada, não sente veneração por ninguém, ele se sente o senhor, e unicamente o senhor (não há convidados, nem espectadores, todos são senhores); em segundo lugar, a multidão é tudo, menos melancólica: desde que o sinal da festa soa, todos, mesmo os mais graves, depõem sua gravidade.
Mikhail Bakhtin. A cultura popular na Idade Média e no Renascimento. Brasília: Ed. UnB, 1996, p. 217-8 (com adaptações).
Considerando o texto, de Mikhail Bakhtin, e as imagens acima, julgue o item.
A obra Parangolé, de Hélio Oiticica, figura como bom exemplo da arte que conjuga a expressão corporal — a dança rítmica carnavalesca — com a expressão visual — o colorido das vestimentas dos passistas.
O teatro é base de toda educação criativa. Dele fluem todas as artes. O homem primitivo expressou-se, antes, dramaticamente: dançava mimeticamente, criando os sons. Depois, necessitou da arte, para pintar-se, ou cobrir-se com peles de animais, ou magicamente representar suas ações nas paredes das cavernas; e a música foi essencial para dar ritmo e tempo à sua dança dramática. A criança “inventa” e, em seu “faz de conta”, necessita de música, dança, artes plásticas e habilidades manuais. A expressão dramática provê as outras artes de um significado e um objetivo para a criança. A criatividade espontânea fundamenta-se na experiência dos sentidos e, ao enfocá-la quer psicodramaticamente, quer cineticamente, verificamos que a espontaneidade tem sua base na imaginação dramática.
Courtney. Jogo, teatro e pensamento – As bases intelectuais do teatro na educação. São Paulo: Perspectiva, 1980, p. 56-7 (com adaptações).
Tendo como referência as ideias desenvolvidas no texto acima, julgue o item.
Com base no texto, conclui-se que a criança, por ter o dom de inventar, cria narrativas fundamentando-se na lógica cartesiana e, portanto, prescinde da arte em seu faz de conta dramático.
Queixa-se o poeta em que o mundo vay errado, e querendo emendâlo o que tem por empreza difficultosa.
[1] Carregado de mim ando no mundo,
E o grande peso embarga-me as passadas,
Que como ando por vias desusadas,
[4] Faço o peso crescer, e vou-me ao fundo.
O remédio será seguir o imundo
Caminho, onde dos mais vejo as pisadas,
[7] Que as bestas andam juntas mais ornadas,
Do que anda só o engenho mais profundo.
Não é fácil viver entre os insanos,
[10] Erra quem presumir que sabe tudo,
Se o atalho não soube dos seus danos.
O prudente varão há de ser mudo,
[13] Que é melhor neste mundo mar de enganos
Ser louco cos demais, que ser sisudo.
Gregório de Matos. Crônica do viver baiano seiscentista – obra poética completa – códice James Amado. 4.ª ed. Rio de Janeiro: Record, V. 1 1999, p. 347.
Considerando o texto acima, de Gregório de Matos, julgue o item.
O tema do “desconcerto do mundo”, tão caro à estética clássica, está representado no texto; no entanto, diferentemente da postura renascentista, Gregório de Matos, em seu poema, ironiza a solução para o mundo desventurado.
Razão contra Sandice
[1] Já o leitor compreendeu que era a Razão que voltava
à casa, e convidava a Sandice a sair, clamando, e com melhor
jus, as palavras de Tartufo:
[4] — La maison est à moi, c’est à vous d’en sortir.
Mas é sestro antigo da Sandice criar amor às casas
alheias, de modo que, apenas senhora de uma, dificilmente lha
[7] farão despejar. É sestro; não se tira daí; há muito que lhe
calejou a vergonha. Agora, se advertirmos no imenso número
de casas que ocupa, umas de vez, outras durante as suas
[10] estações calmosas, concluiremos que esta amável peregrina é
o terror dos proprietários. No nosso caso, houve quase um
distúrbio à porta do meu cérebro, porque a adventícia não
[13] queria entregar a casa, e a dona não cedia da intenção de tomar
o que era seu. Afinal, já a Sandice se contentava com um
cantinho no sótão.
[16] — Não, senhora, replicou a Razão, estou cansada de
lhe ceder sótãos, cansada e experimentada, o que você quer é
passar mansamente do sótão à sala de jantar, daí à de visitas e
[19] ao resto.
— Está bem, deixe-me ficar algum tempo mais, estou
na pista de um mistério...
[22] — Que mistério?
— De dois, emendou a Sandice: o da vida e o da
morte; peço-lhe só uns dez minutos.
[25] A Razão pôs-se a rir.
— Hás de ser sempre a mesma coisa... sempre a
mesma coisa... sempre a mesma coisa.
[28] E, dizendo isto, travou-lhe dos pulsos e arrastou-a para
fora; depois entrou e fechou-se. A Sandice ainda gemeu
algumas súplicas, grunhiu algumas zangas; mas desenganou-se
[31] depressa, deitou a língua de fora, em ar de surriada, e foi
andando...
Machado de Assis. Memórias póstumas de Brás Cubas. São Paulo: Ateliê, 2001, p.84-5.
Tendo como base o texto acima, de Machado de Assis, e as questões por ele suscitadas, julgue o item.
A citação do personagem Tartufo, sem tradução, soava natural na cultura brasileira, ao longo do século XIX e na Primeira República, visto que a França era o modelo a ser seguido, como se verifica, por exemplo, no governo Rodrigues Alves, quando se realizou a modernização urbanística do Rio de Janeiro, claramente inspirada em Paris.
Razão contra Sandice
[1] Já o leitor compreendeu que era a Razão que voltava
à casa, e convidava a Sandice a sair, clamando, e com melhor
jus, as palavras de Tartufo:
[4] — La maison est à moi, c’est à vous d’en sortir.
Mas é sestro antigo da Sandice criar amor às casas
alheias, de modo que, apenas senhora de uma, dificilmente lha
[7] farão despejar. É sestro; não se tira daí; há muito que lhe
calejou a vergonha. Agora, se advertirmos no imenso número
de casas que ocupa, umas de vez, outras durante as suas
[10] estações calmosas, concluiremos que esta amável peregrina é
o terror dos proprietários. No nosso caso, houve quase um
distúrbio à porta do meu cérebro, porque a adventícia não
[13] queria entregar a casa, e a dona não cedia da intenção de tomar
o que era seu. Afinal, já a Sandice se contentava com um
cantinho no sótão.
[16] — Não, senhora, replicou a Razão, estou cansada de
lhe ceder sótãos, cansada e experimentada, o que você quer é
passar mansamente do sótão à sala de jantar, daí à de visitas e
[19] ao resto.
— Está bem, deixe-me ficar algum tempo mais, estou
na pista de um mistério...
[22] — Que mistério?
— De dois, emendou a Sandice: o da vida e o da
morte; peço-lhe só uns dez minutos.
[25] A Razão pôs-se a rir.
— Hás de ser sempre a mesma coisa... sempre a
mesma coisa... sempre a mesma coisa.
[28] E, dizendo isto, travou-lhe dos pulsos e arrastou-a para
fora; depois entrou e fechou-se. A Sandice ainda gemeu
algumas súplicas, grunhiu algumas zangas; mas desenganou-se
[31] depressa, deitou a língua de fora, em ar de surriada, e foi
andando...
Machado de Assis. Memórias póstumas de Brás Cubas. São Paulo: Ateliê, 2001, p.84-5.
Tendo como base o texto acima, de Machado de Assis, e as questões por ele suscitadas, julgue o item.
No período que se inicia na linha 11, verifica-se uma relação de causa e efeito.
Razão contra Sandice
[1] Já o leitor compreendeu que era a Razão que voltava
à casa, e convidava a Sandice a sair, clamando, e com melhor
jus, as palavras de Tartufo:
[4] — La maison est à moi, c’est à vous d’en sortir.
Mas é sestro antigo da Sandice criar amor às casas
alheias, de modo que, apenas senhora de uma, dificilmente lha
[7] farão despejar. É sestro; não se tira daí; há muito que lhe
calejou a vergonha. Agora, se advertirmos no imenso número
de casas que ocupa, umas de vez, outras durante as suas
[10] estações calmosas, concluiremos que esta amável peregrina é
o terror dos proprietários. No nosso caso, houve quase um
distúrbio à porta do meu cérebro, porque a adventícia não
[13] queria entregar a casa, e a dona não cedia da intenção de tomar
o que era seu. Afinal, já a Sandice se contentava com um
cantinho no sótão.
[16] — Não, senhora, replicou a Razão, estou cansada de
lhe ceder sótãos, cansada e experimentada, o que você quer é
passar mansamente do sótão à sala de jantar, daí à de visitas e
[19] ao resto.
— Está bem, deixe-me ficar algum tempo mais, estou
na pista de um mistério...
[22] — Que mistério?
— De dois, emendou a Sandice: o da vida e o da
morte; peço-lhe só uns dez minutos.
[25] A Razão pôs-se a rir.
— Hás de ser sempre a mesma coisa... sempre a
mesma coisa... sempre a mesma coisa.
[28] E, dizendo isto, travou-lhe dos pulsos e arrastou-a para
fora; depois entrou e fechou-se. A Sandice ainda gemeu
algumas súplicas, grunhiu algumas zangas; mas desenganou-se
[31] depressa, deitou a língua de fora, em ar de surriada, e foi
andando...
Machado de Assis. Memórias póstumas de Brás Cubas. São Paulo: Ateliê, 2001, p.84-5.
Tendo como base o texto acima, de Machado de Assis, e as questões por ele suscitadas, julgue o item.
Com base no capítulo apresentado da obra Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, e em relação às características da produção literária brasileira do século XIX, assinale a opção correta.