Deleuze [filósofo francês — 1925-1995] relaciona a repetição a uma transgressão — “Sob todos os aspectos, a repetição é uma transgressão” e estaria relacionada a uma “realidade mais profunda e mais artística” —, para mais adiante relacionar a repetição à liberdade, uma tarefa de liberdade. Em diálogo com Deleuze, a repetição dos cantos indígenasdo circum-Roraima, a meu ver, está intimamente ligada à transgressão, à liberdade, à festa com dança, música e muito consumo de pawari, bebida alcoólica feita principalmente de mandioca. A dança, a música, a poesia e sua constituição pela repetição promovida na festa estão relacionadas a esse ambiente transgressor, para o ponto de vista ocidental. Transgressor, pois era excessivo no tempo (dias de festa), na quantidade de consumo de álcool e principalmente por permitir uma liberdade de expressão intercomunitária interligada pela arte. A repetição dos cantos está ligada a esse ambiente em que se concretizava a expressão artística, ouso dizer, mais completa entre os indígenas do circum-Roraima, pois envolvia dança, música e poesia.
Devair Antônio Fiorotti. Erenkon do circum-Roraima ou uma poética da repetição. /n: O eixo e a roda, Belo Horizonte, v. 26, n. 3, 2017, p. 124-125 (com adaptações).
Com base na leitura do fragmento precedente, extraído de um estudo sobre o efeito da repetição ou paralelismo na literatura oral dos indígenas de Roraima, é correto afirmar que a importância e a atualidade dessa expressão artística se justificam pelo fato de que