EPCAR* 2018
48 Questões
TEXTO
O PODER DA LITERATURA
José Castello
Em um século dominado pelo virtual e pelo
instantâneo, que poder resta à literatura? Ao contrário
das imagens, que nos jogam para fora e para as
superfícies, a literatura nos joga para dentro. Ao contrário
[5] da realidade virtual, que é compartilhada e se baseia na
interação, a literatura é um ato solitário, nos aprisiona na
introspecção. Ao contrário do mundo instantâneo em que
vivemos, dominado pelo “tempo real” e pela rapidez, a
literatura é lenta, é indiferente às pressões do tempo,
[10] ignora o imediato e as circunstâncias.
Vivemos em um mundo dominado pelas
respostas enfáticas e poderosas, enquanto a literatura se
limita a gaguejar perguntas frágeis e vagas. A literatura,
portanto, parece caminhar na contramão do
[15] contemporâneo. Enquanto o mundo se expande, se
reproduz e acelera, a literatura contrai, pedindo que
paremos para um mergulho “sem resultados” em nosso
próprio interior. Sim: a literatura – no sentido prático – é
inútil. Mas ela apenas parece inútil.
[20] A literatura não serve para nada – é o que se
pensa. A indústria editorial tende a reduzi-la a um
entretenimento para a beira de piscinas e as salas de
espera dos aeroportos. De outro lado, a universidade –
em uma direção oposta, mas igualmente improdutiva –
[25] transforma a literatura em uma “especialidade”, destinada
apenas ao gozo dos pesquisadores e dos doutores. Vou
dizer com todas as letras: são duas formas de matá-la. A
primeira, por banalização. A segunda, por um esfriamento
que a asfixia. Nos dois casos, a literatura perde sua
[30] potência. Tanto quando é vista como “distração”, quanto
quando é vista como “objeto de estudos”, a literatura
perde o principal: seu poder de interrogar, interferir e
desestabilizar a existência. Contudo, desde os gregos, a
literatura conserva um poder que não é de mais ninguém.
[35] Ela lança o sujeito de volta para dentro de si e o leva a
encarar o horror, as crueldades, a imensa instabilidade e
o igualmente imenso vazio que carregamos em nosso
espírito. Somos seres “normais”, como nos orgulhamos
de dizer. Cultivamos nossos hábitos, manias e padrões.
[40] Emprestamos um grande valor à repetição e ao Mesmo.
Acreditamos que somos donos de nós mesmos!
Mas leia Dostoievski, leia Kafka, leia Pessoa,
leia Clarice – e você verá que rombo se abre em seu
espírito. Verá o quanto tudo isso é mentiroso. Vivemos
[45] imersos em um grande mar que chamamos de realidade,
mas que – a literatura desmascara isso – não passa de
ilusão. A “realidade” é apenas um pacto que fazemos
entre nós para suportar o “real”. A realidade é norma, é
contrato, é repetição, ela é o conhecido e o previsível. O
[50] real, ao contrário, é instabilidade, surpresa,
desassossego. O real é o estranho.
(...)
A literatura não tem o poder dos mísseis, dos
exércitos e das grandes redes de informação. Seu poder
[55] é limitado: é subjetivo. Ao lançá-lo para dentro, e não
para fora, ela se infiltra, como um veneno, nas pequenas
frestas de seu espírito. Mas, nele instalada pelo ato da
leitura, que escândalos, que estragos, mas também que
descobertas e que surpresas ela pode deflagrar.
[60] Não é preciso ser um especialista para ler uma
ficção. Não é preciso ostentar títulos, apresentar
currículos, ou credenciais. A literatura é para todos.
Dizendo melhor: é para os corajosos ou, pelo menos,
para aqueles que ainda valorizam a coragem.
(...)
(http://blogs.oglobo.globo.com/jose-castello/post/o-poder-da-literatura-444909.html - Acesso em: 21 fev 2017)
Da leitura global do texto, só NÃO é correto afirmar que a literatura
TEXTO
O PODER DA LITERATURA
José Castello
Em um século dominado pelo virtual e pelo
instantâneo, que poder resta à literatura? Ao contrário
das imagens, que nos jogam para fora e para as
superfícies, a literatura nos joga para dentro. Ao contrário
[5] da realidade virtual, que é compartilhada e se baseia na
interação, a literatura é um ato solitário, nos aprisiona na
introspecção. Ao contrário do mundo instantâneo em que
vivemos, dominado pelo “tempo real” e pela rapidez, a
literatura é lenta, é indiferente às pressões do tempo,
[10] ignora o imediato e as circunstâncias.
Vivemos em um mundo dominado pelas
respostas enfáticas e poderosas, enquanto a literatura se
limita a gaguejar perguntas frágeis e vagas. A literatura,
portanto, parece caminhar na contramão do
[15] contemporâneo. Enquanto o mundo se expande, se
reproduz e acelera, a literatura contrai, pedindo que
paremos para um mergulho “sem resultados” em nosso
próprio interior. Sim: a literatura – no sentido prático – é
inútil. Mas ela apenas parece inútil.
[20] A literatura não serve para nada – é o que se
pensa. A indústria editorial tende a reduzi-la a um
entretenimento para a beira de piscinas e as salas de
espera dos aeroportos. De outro lado, a universidade –
em uma direção oposta, mas igualmente improdutiva –
[25] transforma a literatura em uma “especialidade”, destinada
apenas ao gozo dos pesquisadores e dos doutores. Vou
dizer com todas as letras: são duas formas de matá-la. A
primeira, por banalização. A segunda, por um esfriamento
que a asfixia. Nos dois casos, a literatura perde sua
[30] potência. Tanto quando é vista como “distração”, quanto
quando é vista como “objeto de estudos”, a literatura
perde o principal: seu poder de interrogar, interferir e
desestabilizar a existência. Contudo, desde os gregos, a
literatura conserva um poder que não é de mais ninguém.
[35] Ela lança o sujeito de volta para dentro de si e o leva a
encarar o horror, as crueldades, a imensa instabilidade e
o igualmente imenso vazio que carregamos em nosso
espírito. Somos seres “normais”, como nos orgulhamos
de dizer. Cultivamos nossos hábitos, manias e padrões.
[40] Emprestamos um grande valor à repetição e ao Mesmo.
Acreditamos que somos donos de nós mesmos!
Mas leia Dostoievski, leia Kafka, leia Pessoa,
leia Clarice – e você verá que rombo se abre em seu
espírito. Verá o quanto tudo isso é mentiroso. Vivemos
[45] imersos em um grande mar que chamamos de realidade,
mas que – a literatura desmascara isso – não passa de
ilusão. A “realidade” é apenas um pacto que fazemos
entre nós para suportar o “real”. A realidade é norma, é
contrato, é repetição, ela é o conhecido e o previsível. O
[50] real, ao contrário, é instabilidade, surpresa,
desassossego. O real é o estranho.
(...)
A literatura não tem o poder dos mísseis, dos
exércitos e das grandes redes de informação. Seu poder
[55] é limitado: é subjetivo. Ao lançá-lo para dentro, e não
para fora, ela se infiltra, como um veneno, nas pequenas
frestas de seu espírito. Mas, nele instalada pelo ato da
leitura, que escândalos, que estragos, mas também que
descobertas e que surpresas ela pode deflagrar.
[60] Não é preciso ser um especialista para ler uma
ficção. Não é preciso ostentar títulos, apresentar
currículos, ou credenciais. A literatura é para todos.
Dizendo melhor: é para os corajosos ou, pelo menos,
para aqueles que ainda valorizam a coragem.
(...)
(http://blogs.oglobo.globo.com/jose-castello/post/o-poder-da-literatura-444909.html - Acesso em: 21 fev 2017)
Na afirmativa “Mas ela apenas parece inútil.” (l. 19) , o advérbio “apenas” e o verbo “parece” reiteram o juízo de valor do autor sobre a importância da literatura, que para ele
TEXTO
O PODER DA LITERATURA
José Castello
Em um século dominado pelo virtual e pelo
instantâneo, que poder resta à literatura? Ao contrário
das imagens, que nos jogam para fora e para as
superfícies, a literatura nos joga para dentro. Ao contrário
[5] da realidade virtual, que é compartilhada e se baseia na
interação, a literatura é um ato solitário, nos aprisiona na
introspecção. Ao contrário do mundo instantâneo em que
vivemos, dominado pelo “tempo real” e pela rapidez, a
literatura é lenta, é indiferente às pressões do tempo,
[10] ignora o imediato e as circunstâncias.
Vivemos em um mundo dominado pelas
respostas enfáticas e poderosas, enquanto a literatura se
limita a gaguejar perguntas frágeis e vagas. A literatura,
portanto, parece caminhar na contramão do
[15] contemporâneo. Enquanto o mundo se expande, se
reproduz e acelera, a literatura contrai, pedindo que
paremos para um mergulho “sem resultados” em nosso
próprio interior. Sim: a literatura – no sentido prático – é
inútil. Mas ela apenas parece inútil.
[20] A literatura não serve para nada – é o que se
pensa. A indústria editorial tende a reduzi-la a um
entretenimento para a beira de piscinas e as salas de
espera dos aeroportos. De outro lado, a universidade –
em uma direção oposta, mas igualmente improdutiva –
[25] transforma a literatura em uma “especialidade”, destinada
apenas ao gozo dos pesquisadores e dos doutores. Vou
dizer com todas as letras: são duas formas de matá-la. A
primeira, por banalização. A segunda, por um esfriamento
que a asfixia. Nos dois casos, a literatura perde sua
[30] potência. Tanto quando é vista como “distração”, quanto
quando é vista como “objeto de estudos”, a literatura
perde o principal: seu poder de interrogar, interferir e
desestabilizar a existência. Contudo, desde os gregos, a
literatura conserva um poder que não é de mais ninguém.
[35] Ela lança o sujeito de volta para dentro de si e o leva a
encarar o horror, as crueldades, a imensa instabilidade e
o igualmente imenso vazio que carregamos em nosso
espírito. Somos seres “normais”, como nos orgulhamos
de dizer. Cultivamos nossos hábitos, manias e padrões.
[40] Emprestamos um grande valor à repetição e ao Mesmo.
Acreditamos que somos donos de nós mesmos!
Mas leia Dostoievski, leia Kafka, leia Pessoa,
leia Clarice – e você verá que rombo se abre em seu
espírito. Verá o quanto tudo isso é mentiroso. Vivemos
[45] imersos em um grande mar que chamamos de realidade,
mas que – a literatura desmascara isso – não passa de
ilusão. A “realidade” é apenas um pacto que fazemos
entre nós para suportar o “real”. A realidade é norma, é
contrato, é repetição, ela é o conhecido e o previsível. O
[50] real, ao contrário, é instabilidade, surpresa,
desassossego. O real é o estranho.
(...)
A literatura não tem o poder dos mísseis, dos
exércitos e das grandes redes de informação. Seu poder
[55] é limitado: é subjetivo. Ao lançá-lo para dentro, e não
para fora, ela se infiltra, como um veneno, nas pequenas
frestas de seu espírito. Mas, nele instalada pelo ato da
leitura, que escândalos, que estragos, mas também que
descobertas e que surpresas ela pode deflagrar.
[60] Não é preciso ser um especialista para ler uma
ficção. Não é preciso ostentar títulos, apresentar
currículos, ou credenciais. A literatura é para todos.
Dizendo melhor: é para os corajosos ou, pelo menos,
para aqueles que ainda valorizam a coragem.
(...)
(http://blogs.oglobo.globo.com/jose-castello/post/o-poder-da-literatura-444909.html - Acesso em: 21 fev 2017)
Assinale a opção em que NÃO se percebe uma ideia adversativa.
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O PODER DA LITERATURA
José Castello
Em um século dominado pelo virtual e pelo
instantâneo, que poder resta à literatura? Ao contrário
das imagens, que nos jogam para fora e para as
superfícies, a literatura nos joga para dentro. Ao contrário
[5] da realidade virtual, que é compartilhada e se baseia na
interação, a literatura é um ato solitário, nos aprisiona na
introspecção. Ao contrário do mundo instantâneo em que
vivemos, dominado pelo “tempo real” e pela rapidez, a
literatura é lenta, é indiferente às pressões do tempo,
[10] ignora o imediato e as circunstâncias.
Vivemos em um mundo dominado pelas
respostas enfáticas e poderosas, enquanto a literatura se
limita a gaguejar perguntas frágeis e vagas. A literatura,
portanto, parece caminhar na contramão do
[15] contemporâneo. Enquanto o mundo se expande, se
reproduz e acelera, a literatura contrai, pedindo que
paremos para um mergulho “sem resultados” em nosso
próprio interior. Sim: a literatura – no sentido prático – é
inútil. Mas ela apenas parece inútil.
[20] A literatura não serve para nada – é o que se
pensa. A indústria editorial tende a reduzi-la a um
entretenimento para a beira de piscinas e as salas de
espera dos aeroportos. De outro lado, a universidade –
em uma direção oposta, mas igualmente improdutiva –
[25] transforma a literatura em uma “especialidade”, destinada
apenas ao gozo dos pesquisadores e dos doutores. Vou
dizer com todas as letras: são duas formas de matá-la. A
primeira, por banalização. A segunda, por um esfriamento
que a asfixia. Nos dois casos, a literatura perde sua
[30] potência. Tanto quando é vista como “distração”, quanto
quando é vista como “objeto de estudos”, a literatura
perde o principal: seu poder de interrogar, interferir e
desestabilizar a existência. Contudo, desde os gregos, a
literatura conserva um poder que não é de mais ninguém.
[35] Ela lança o sujeito de volta para dentro de si e o leva a
encarar o horror, as crueldades, a imensa instabilidade e
o igualmente imenso vazio que carregamos em nosso
espírito. Somos seres “normais”, como nos orgulhamos
de dizer. Cultivamos nossos hábitos, manias e padrões.
[40] Emprestamos um grande valor à repetição e ao Mesmo.
Acreditamos que somos donos de nós mesmos!
Mas leia Dostoievski, leia Kafka, leia Pessoa,
leia Clarice – e você verá que rombo se abre em seu
espírito. Verá o quanto tudo isso é mentiroso. Vivemos
[45] imersos em um grande mar que chamamos de realidade,
mas que – a literatura desmascara isso – não passa de
ilusão. A “realidade” é apenas um pacto que fazemos
entre nós para suportar o “real”. A realidade é norma, é
contrato, é repetição, ela é o conhecido e o previsível. O
[50] real, ao contrário, é instabilidade, surpresa,
desassossego. O real é o estranho.
(...)
A literatura não tem o poder dos mísseis, dos
exércitos e das grandes redes de informação. Seu poder
[55] é limitado: é subjetivo. Ao lançá-lo para dentro, e não
para fora, ela se infiltra, como um veneno, nas pequenas
frestas de seu espírito. Mas, nele instalada pelo ato da
leitura, que escândalos, que estragos, mas também que
descobertas e que surpresas ela pode deflagrar.
[60] Não é preciso ser um especialista para ler uma
ficção. Não é preciso ostentar títulos, apresentar
currículos, ou credenciais. A literatura é para todos.
Dizendo melhor: é para os corajosos ou, pelo menos,
para aqueles que ainda valorizam a coragem.
(...)
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Assinale a figura de linguagem que traz a substituição de um nome por outro em virtude de haver entre eles uma relação metonímica.
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Em um século dominado pelo virtual e pelo
instantâneo, que poder resta à literatura? Ao contrário
das imagens, que nos jogam para fora e para as
superfícies, a literatura nos joga para dentro. Ao contrário
[5] da realidade virtual, que é compartilhada e se baseia na
interação, a literatura é um ato solitário, nos aprisiona na
introspecção. Ao contrário do mundo instantâneo em que
vivemos, dominado pelo “tempo real” e pela rapidez, a
literatura é lenta, é indiferente às pressões do tempo,
[10] ignora o imediato e as circunstâncias.
Vivemos em um mundo dominado pelas
respostas enfáticas e poderosas, enquanto a literatura se
limita a gaguejar perguntas frágeis e vagas. A literatura,
portanto, parece caminhar na contramão do
[15] contemporâneo. Enquanto o mundo se expande, se
reproduz e acelera, a literatura contrai, pedindo que
paremos para um mergulho “sem resultados” em nosso
próprio interior. Sim: a literatura – no sentido prático – é
inútil. Mas ela apenas parece inútil.
[20] A literatura não serve para nada – é o que se
pensa. A indústria editorial tende a reduzi-la a um
entretenimento para a beira de piscinas e as salas de
espera dos aeroportos. De outro lado, a universidade –
em uma direção oposta, mas igualmente improdutiva –
[25] transforma a literatura em uma “especialidade”, destinada
apenas ao gozo dos pesquisadores e dos doutores. Vou
dizer com todas as letras: são duas formas de matá-la. A
primeira, por banalização. A segunda, por um esfriamento
que a asfixia. Nos dois casos, a literatura perde sua
[30] potência. Tanto quando é vista como “distração”, quanto
quando é vista como “objeto de estudos”, a literatura
perde o principal: seu poder de interrogar, interferir e
desestabilizar a existência. Contudo, desde os gregos, a
literatura conserva um poder que não é de mais ninguém.
[35] Ela lança o sujeito de volta para dentro de si e o leva a
encarar o horror, as crueldades, a imensa instabilidade e
o igualmente imenso vazio que carregamos em nosso
espírito. Somos seres “normais”, como nos orgulhamos
de dizer. Cultivamos nossos hábitos, manias e padrões.
[40] Emprestamos um grande valor à repetição e ao Mesmo.
Acreditamos que somos donos de nós mesmos!
Mas leia Dostoievski, leia Kafka, leia Pessoa,
leia Clarice – e você verá que rombo se abre em seu
espírito. Verá o quanto tudo isso é mentiroso. Vivemos
[45] imersos em um grande mar que chamamos de realidade,
mas que – a literatura desmascara isso – não passa de
ilusão. A “realidade” é apenas um pacto que fazemos
entre nós para suportar o “real”. A realidade é norma, é
contrato, é repetição, ela é o conhecido e o previsível. O
[50] real, ao contrário, é instabilidade, surpresa,
desassossego. O real é o estranho.
(...)
A literatura não tem o poder dos mísseis, dos
exércitos e das grandes redes de informação. Seu poder
[55] é limitado: é subjetivo. Ao lançá-lo para dentro, e não
para fora, ela se infiltra, como um veneno, nas pequenas
frestas de seu espírito. Mas, nele instalada pelo ato da
leitura, que escândalos, que estragos, mas também que
descobertas e que surpresas ela pode deflagrar.
[60] Não é preciso ser um especialista para ler uma
ficção. Não é preciso ostentar títulos, apresentar
currículos, ou credenciais. A literatura é para todos.
Dizendo melhor: é para os corajosos ou, pelo menos,
para aqueles que ainda valorizam a coragem.
(...)
(http://blogs.oglobo.globo.com/jose-castello/post/o-poder-da-literatura-444909.html - Acesso em: 21 fev 2017)
Observe o uso do vocábulo que nos enunciados dos itens abaixo.
I. “...o igualmente imenso vazio que carregamos em nosso espírito.” (l. 37 e 38)
II. “... nele instalada pelo ato da leitura, que escândalos...” (l. 57 e 58)
III. “Em um século dominado pelo virtual e pelo instantâneo, que poder resta à literatura?” (l. 1 e 2)
IV. “...e você verá que rombo se abre em seu espírito.” (l. 43 e 44)
Assinale a alternativa que apresenta a sua classificação correta.
TEXTO
O PODER DA LITERATURA
José Castello
Em um século dominado pelo virtual e pelo
instantâneo, que poder resta à literatura? Ao contrário
das imagens, que nos jogam para fora e para as
superfícies, a literatura nos joga para dentro. Ao contrário
[5] da realidade virtual, que é compartilhada e se baseia na
interação, a literatura é um ato solitário, nos aprisiona na
introspecção. Ao contrário do mundo instantâneo em que
vivemos, dominado pelo “tempo real” e pela rapidez, a
literatura é lenta, é indiferente às pressões do tempo,
[10] ignora o imediato e as circunstâncias.
Vivemos em um mundo dominado pelas
respostas enfáticas e poderosas, enquanto a literatura se
limita a gaguejar perguntas frágeis e vagas. A literatura,
portanto, parece caminhar na contramão do
[15] contemporâneo. Enquanto o mundo se expande, se
reproduz e acelera, a literatura contrai, pedindo que
paremos para um mergulho “sem resultados” em nosso
próprio interior. Sim: a literatura – no sentido prático – é
inútil. Mas ela apenas parece inútil.
[20] A literatura não serve para nada – é o que se
pensa. A indústria editorial tende a reduzi-la a um
entretenimento para a beira de piscinas e as salas de
espera dos aeroportos. De outro lado, a universidade –
em uma direção oposta, mas igualmente improdutiva –
[25] transforma a literatura em uma “especialidade”, destinada
apenas ao gozo dos pesquisadores e dos doutores. Vou
dizer com todas as letras: são duas formas de matá-la. A
primeira, por banalização. A segunda, por um esfriamento
que a asfixia. Nos dois casos, a literatura perde sua
[30] potência. Tanto quando é vista como “distração”, quanto
quando é vista como “objeto de estudos”, a literatura
perde o principal: seu poder de interrogar, interferir e
desestabilizar a existência. Contudo, desde os gregos, a
literatura conserva um poder que não é de mais ninguém.
[35] Ela lança o sujeito de volta para dentro de si e o leva a
encarar o horror, as crueldades, a imensa instabilidade e
o igualmente imenso vazio que carregamos em nosso
espírito. Somos seres “normais”, como nos orgulhamos
de dizer. Cultivamos nossos hábitos, manias e padrões.
[40] Emprestamos um grande valor à repetição e ao Mesmo.
Acreditamos que somos donos de nós mesmos!
Mas leia Dostoievski, leia Kafka, leia Pessoa,
leia Clarice – e você verá que rombo se abre em seu
espírito. Verá o quanto tudo isso é mentiroso. Vivemos
[45] imersos em um grande mar que chamamos de realidade,
mas que – a literatura desmascara isso – não passa de
ilusão. A “realidade” é apenas um pacto que fazemos
entre nós para suportar o “real”. A realidade é norma, é
contrato, é repetição, ela é o conhecido e o previsível. O
[50] real, ao contrário, é instabilidade, surpresa,
desassossego. O real é o estranho.
(...)
A literatura não tem o poder dos mísseis, dos
exércitos e das grandes redes de informação. Seu poder
[55] é limitado: é subjetivo. Ao lançá-lo para dentro, e não
para fora, ela se infiltra, como um veneno, nas pequenas
frestas de seu espírito. Mas, nele instalada pelo ato da
leitura, que escândalos, que estragos, mas também que
descobertas e que surpresas ela pode deflagrar.
[60] Não é preciso ser um especialista para ler uma
ficção. Não é preciso ostentar títulos, apresentar
currículos, ou credenciais. A literatura é para todos.
Dizendo melhor: é para os corajosos ou, pelo menos,
para aqueles que ainda valorizam a coragem.
(...)
(http://blogs.oglobo.globo.com/jose-castello/post/o-poder-da-literatura-444909.html - Acesso em: 21 fev 2017)
Assinale a alternativa que apresenta uma explicação INCORRETA.