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65 Questões
O livro Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida, foi publicado em folhetins no ano de 1853. Caracteriza-se por documentar os costumes, os comportamentos e os tipos sociais da classe média da sociedade brasileira do tempo do rei D. João VI, ignorados pela literatura até então. É considerado um clássico da literatura brasileira do século XIX.
O fragmento a seguir é parte do capítulo intitulado Estralada, no qual o personagem Leonardo Pataca, para vingar-se de um desafeto seu, contrata o valentão Chico-Juca. Leia-o para responder à questão.
[...]
— Isto passa de mais... varro... menos essa, senhor Chico-Juca; nada de graças pesadas com essa moça, que é cá coisa minha...
O Chico-Juca estava com efeito há mais de meia hora a dirigir graçolas das suas a uma moça que ele bem sabia que era coisa do rapaz que estava tocando; tanto fez que este, tendo percebido, proferiu aquelas palavras que acabamos de ouvir.
— Você respinga?!... - respondeu-lhe o Chico-Juca dirigindo-se para ele.
O rapaz, que não era peco, pôs-se em pé e replicou:
— Tenho dito, nada de graças com ela!...
[...]
ALMEIDA, M. A. Memórias de um Sargento de Milícias. Porto Alegre: L&PM, 2015.
A voz narrativa predominante no livro Memórias de um Sargento de Milícias é a 3a. pessoa, o que pode criar um certo distanciamento do narrador em relação aos fatos narrados.
No fragmento, notase que essa voz oscila, revelando um narrador que se coloca como testemunha da situação retratada, conforme o seguinte trecho:
O fragmento a seguir foi extraído do capítulo Despedida às travessuras. Nele, narram-se as traquinagens de Leonardo durante uma procissão que representava a via-sacra.
[...] Era a via-sacra do Bom Jesus.
Há bem pouco tempo existiam ainda em certas ruas desta cidade cruzes negras pregadas pelas paredes de espaço em espaço.
Às quartas-feiras e em outros dias da semana saía do Bom Jesus e de outras igrejas uma espécie de procissão composta de alguns padres conduzindo cruzes [...] Caminhavam eles em charola atrás da procissão, interrompendo a cantoria com ditérios em voz alta, ora simplesmente engraçados, ora pouco decentes; levavam longos fios de barbante, em cuja extremidade iam penduradas grossas bolas de cera. Se ia por ali ao seu alcance algum infeliz, a quem os anos tivessem despido a cabeça dos cabelos, colocavam-se em distância conveniente e, escondidos por trás de um ou de outro, arremessavam o projétil que ia bater em cheio sobre a calva do devoto; puxavam rapidamente o barbante, e ninguém podia saber donde tinha partido o golpe. Essas e outras cenas excitavam vozeria e gargalhadas na multidão.
Era a isto que naqueles devotos tempos se chamava correr a via-sacra.
ALMEIDA, M. A. Memórias de um Sargento de Milícias. Porto Alegre: L&PM, 2015.
Os pronomes demonstrativos, em certos contextos, além de sua função coesiva, atuam como recurso estilístico.
Em “Era a isto que naqueles devotos tempos se chamava correr a via-sacra.”, o pronome “isto”, ao retomar o parágrafo anterior, e associado ao adjetivo devotos, sugere, na fala do narrador, um tom
O fragmento seguinte integra o primeiro capítulo do livro Memórias de um Sargento de Milícias, intitulado Origem, nascimento e batizado. Leia-o para responder à questão que segue.
[...] Os meirinhos de hoje não são mais do que a sombra caricata dos meirinhos do tempo do rei; esses eram gente que temível e temida, respeitável e respeitada; formavam um dos extremos da formidável cadeia judiciária que envolvia todo o Rio de Janeiro no tempo em que a demanda era entre nós um elemento de vida: o extremo oposto eram os desembargadores. Ora, os extremos se tocam, e estes, tocando-se, fechavam o círculo dentro do qual se passavam os terríveis combates das citações, provarás, razões principais e finais, e todos esses trejeitos judiciais que se chamava o processo. [...]
ALMEIDA, M. A. Memórias de um Sargento de Milícias. Porto Alegre: L&PM, 2015.
No contexto, o fragmento “Ora, os extremos se tocam, e estes, tocando-se, fechavam o círculo[...]”, de acordo com as relações sintático-semânticas, contém o sentido equivalente à
Do capítulo Contrariedades, extraiu-se o fragmento que segue. Leia-o para responder à questão.
[...] Se tinha alguma virtude, era a de não enganar pela cara. Entre todas as suas qualidades possuía uma
que felizmente caracterizava naquele tempo, e talvez que ainda hoje, positiva e claramente o fluminense,
era a maledicência. José Manuel era uma crônica viva, porém crônica escandalosa, não só de todos os seus
conhecimentos e amigos, e das famílias destes, mas ainda dos conhecidos e amigos dos seus amigos e
[5] conhecidos e de suas famílias. Debaixo do mais fútil pretexto tomava a palavra, e enfiava um discurso de
duas horas sobre a vida de fulano ou de beltrano.
ALMEIDA, M. A. Memórias de um Sargento de Milícias. Porto Alegre: L&PM, 2015.
No fragmento, considerando o contexto da obra, nota-se a presença da conotação enfática quando o narrador emprega a expressão
O texto a seguir, extraído do capítulo Caldo Entornado, serve de base para responder à questão.
[...] Um dia o toma-largura tinha saído em serviço; ninguém esperava por ele tão cedo; eram onze horas da manhã. O Leonardo, por um daqueles milhares de escaninhos que existem na ucharia, tinha ido ter à casa do toma-largura. Ninguém porém pense que era para maus fins. Pelo contrário era para o fim muito louvável de levar à pobre moça uma tigela de caldo do que há pouco fora mandado a el-rei... Obséquio de empregado da ucharia. Não há aqui nada de censurável. Seria entretanto muito digno de censura que quem recebia tal obséquio não o procurasse pagar com um extremo de civilidade; a moça convidou pois ao Leonardo para ajudá-la a tomar o caldo. E que grosseiro seria ele se não aceitasse tão belo oferecimento? Aceitou.[...]
ALMEIDA, M. A. Memórias de um Sargento de Milícias. Porto Alegre: L&PM, 2015.
No livro Memórias de um Sargento de Milícias, são relatados alguns dos casos amorosos do personagem Leonardo.
No fragmento acima, considerando a ironia do narrador, a ideia de que Leonardo teria um interesse particular pela jovem encontra respaldo no fato de o personagem
Leia o texto que segue para responder à questão.
Manuel Bandeira, autor de Libertinagem (1930), insere-se na primeira Geração do Modernismo no Brasil. Sua obra, também influenciada por sua história de vida, rompeu com os padrões rígidos ditados pela produção anterior ao Modernismo. Ocupa lugar de relevância na produção poética brasileira no séc. XX, sendo um dos poetas conhecidos e estudados na contemporaneidade. Especificamente, Libertinagem acompanha o ideário do grupo modernista da Semana de 22.
Lenda brasileira
A moita buliu. Bentinho Jararaca levou a arma à cara: o que saiu do mato foi o Veado Branco! Bentinho ficou pregado no chão. Quis puxar o gatilho e não pôde.
- Deus me perdoe!
Mas o Cussaruim veio vindo, veio vindo, parou junto do caçador e começou a comer devagarinho o cano da espingarda.
BANDEIRA, M. Libertinagem. 2 ed. São Paulo: Global, 2013.
Do conjunto de propostas defendidas pelo grupo modernista de 22, o poema Lenda brasileira ilustra o recurso do/a