Redação #1260160
Previsão: 24/11/2022
No filme "Que horas ela volta?", a filha da empregada doméstica Val decide ir morar com a mãe na casa dos seus ricos patrões como uma oportunidade de estudar e ingressar na faculdade de arquitetura. Hoje, percebe-se que a obra dialoga com o incerto futuro das universidades federais do país, já que os constantes cortes de verbas ameaçam a existência dessas. A partir desse contexto, é imprescindível entender a importância das instituições de ensino e os entraves ocasionados pela ausência delas.
Com base nesse cenário, é fundamental compreender o sucateamento das universidades públicas como política de exclusão e manutenção do estado de desigualdade. De fato, um povo educado não aceitaria as condições de miséria e desemprego como as que existem hoje (teoria estudada pelo sociólogo Florestan Fernandes). Nessa perspectiva, o papel transformador da educação é mutado e restrito àqueles que perpetuam as estruturas hierárquicas, pois, uma vez que, os estudantes necessitam de auxílio financeiro para permanecer estudando e esse suporte é retirado deles, a permanência no ensino superior se torna inviável. Assim, é preciso trabalhar para que o acesso a educação seja visto como um direito constitucional para todos e não, como aconteceu no filme, uma forma de "roubar" o lugar de um indivíduo já privilegiado em todas as instâncias.
Além disso, percebe-se também a forma que a educação repercute na transformação da vida daqueles que mais necessitam. Realmente, não há como hesitar: a crise é usada como justificativa para o não investimento em políticas sociais, ou seja, a pandemia do covid-19 foi utilizada como motivo para os cortes em gastos discricionários, que são extremamente necessários para que as universidades funcionem corretamente. Essa ideia foi estudada pelo sociólogo Boaventura de Sousa Santos e denuncia o projeto governamental de elitizar a educação superior, a partir de remoções bilionárias dos orçamentos universitários, deixando essas instituições incapazes de competirem com faculdades privadas que, por possuírem um corpo discente pagante, podem investir no melhoramento e expansão do ensino e dos projetos científicos. A partir disso, em concordância com o economista Arthur Lewis, é difícil pensar na educação como despesa, ao invés de um investimento garantido.
Portanto, é inegável que o corte do montante destinado das universidades é uma consequência da gestão política, a qual reverbera no desenvolvimento do país. Dessa forma, é fundamental que o Poder Executivo Federal, mais especificamente os Ministérios da Educação e da Economia, administre ações de investimento no ensino superior federal. Tal ato ocorrerá por meio de um projeto estatal de ajuste e reorganização, o qual deverá analisar os gastos governamentais e redirecionar recursos de acordo com a necessidade de cada universidade, a fim de tornar possível a continuidade das instituições de ensino e do avanço científico do país. Afinal, o direito à educação de qualidade é constitucional.
Recife - PE