Redação #957662
Previsão: 30/03/2022
Em seu célebre poema "No meio do caminho", o poeta Carlos Drummond de Andrade metaforizou os obstáculos da vida como sendo uma pedra intransponível. Ao sair da vertente literária, é plausível comparar, também, essa "rocha" ao exíguo reconhecimento da contribuição das mulheres nas ciências da saúde, o qual configura um árduo desafio a ser sanado no Brasil. É necessária, então, uma análise dos fatores que estimulam o revés: o ínfimo incentivo midiático e o frustrante legado histórico.
É crucial salientar, sobretudo, como a apatia da mídia intensifica o infortúnio. Diante disso, o sociólogo Pierre Bourdieu defendia que os mecanismos democráticos não devem se tornar em ferramentas opressoras. Observa-se, todavia, que os meios de comunicação revelam uma face opressora ao privilegiar o trabalho masculino nas ciências médicas em detrimento do labor feminino no mesmo ramo. Isso, por conseguinte, faz com que o tecido civil pouco reconheça a enorme contribuição femínea no âmbito salutífero. Assim, fica claro que a mídia atua como uma fracassada no que tange à resolução dessa crítica vicissitude.
Faz-se essencial acentuar, além disso, como as raízes historiais reforçam o empecilho. Para o sociólogo Sérgio Buarque de Holanda, o brasileiro carrega consigo fortes traços de seu passado. Sob essa lógica, pode-se afirmar que, por conta de uma histórica cultura machista, o Brasil tem demonstrado dificuldades em protagonizar e incentivar a integração feminil nas áreas médicas. Consequentemente, a população do país acaba por não reconhecer que tal segmento populacional é capaz de exacerbadamente contribuir para os avanços técnicos. Desse modo, é inadmissível que as mazelas pretéritas continuem a se perpetuar na sociedade contemporânea.É indispensável, pois, frear os tonificadores da adversidade. Para tanto, cabe à mídia â€" instituição incumbida de facilitar a propagação de informação â€" considerar, por meio de televisões e rádios, a diversidade nas ciências da saúde com o intuito de que a coletividade saiba reconhecer o trabalho feminino nessa área. Ademais, o Estado deve desconstruir rótulos da herança historial quanto ao desincentivo do labor feminil nas esferas médicas. Feito isso, poder-se-á ver a nação absolvida dessa contrariedade.
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