Redação #1249479
Vencedora do prêmio de literatura nacional Jabuti, a obra "Holocausto Brasileiro", de Daniela Arbex, denuncia o sofrimento dos internos do maior manicômio do Brasil durante o século XX. Hoje, nota-se que as condições de vida precárias que esses indivíduos viviam ainda são muito atuais, mesmo com os esforços da luta antimanicomial no país. Com base nesse contexto, é essencial analisar o que motiva a perpetuação dos manicômios, bem como aquilo que impede sua extinção para que haja um recurso terapêutico mais humanizado.
Nesse sentido, um tratamento em condições sub-humanas é uma situação que persiste como sintoma de um país institucionalizado. Sem dúvida, com uma aplicação opressiva do sistema psiquiátrico, isto é, institucionalização, observou-se um tratamento cada vez mais violento como um reflexo desse processo. Tal questão, aliás, foi estudada pelo filósofo Michel Foucault, na obra "Vigiar e Punir", na qual ele retrata a relação coercitiva das instituições (aqui, principalmente os manicômios)como um mecanismo de perpetuação de uma sociedade violenta e excludente. Dessa forma, a luta antimanicomial é necessária na construção da dignidade de vida dos pacientes nos hospitais psiquiátricos.
Além disso, a estigmatização dos hospitais especializados nesse assunto por parte do corpo social se mostra como um impasse para o fim dos manicômios. Isso acontece pois têm-se uma visão negativa arraigada sobre a seriedade desses ambientes, assim como também há com os indivíduos que buscam ajuda neles. Esse preconceito foi estudado pela socióloga Hannah Arendt (no livro "As Origens do Totalitarismo")que aponta o quanto uma percepção pouco empática e individualista atinge as relações sociais de uma nação. Afinal, para muitos "o mal que não me atinge não me toca". A partir disso é difícil pensar no fim de tantos Holocautos Brasileiros, enquanto muitos indivíduos ainda mantêm esses estigmas.
Portanto, a persistência da institucionalização e dos estigmas motivam impasses para a plenitude do movimento antimanicômio. Com isso, é de grande urgência que o Poder Executivo federal, mais especificadamente, o Ministério da Saúde em parceria com o Poder Legislativo federal criem o Projeto Nacional "Humaniza Mais", por meio do redirecionamento da verba orçamentária nacional da saúde, para combater a existência de manicômios, além de garantir uma fiscalização mais austera atráves da atuação do Legislativo. Dessa maneira, a realidade denunciada no livro de Arbex ficará somente no passado.
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