Questões de Filosofia - Filosofia contemporânea - Fenomenologia e Existencialismo - Simone de Beauvoir
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Questão 1 12435965
UCS Verão 2022Instrução: A questão refere-se ao texto abaixo.
Condenado a ser livre
Almir Freitas
[1] Entre a concepção de autonomia política e a noção de livre-arbítrio, a liberdade sempre ocupou papel
central na filosofia. Mas foi no século XX, destacada no então recente arcabouço existencialista, que ela
chegou à cultura mais geral, expressa não apenas nas obras teóricas de Jean-Paul Sartre (1905-1980),
mas também nos seus romances e peças de teatro. Dali em diante, naquele mundo que emergia das ruínas
[5] da Segunda Guerra Mundial e ensaiava uma era de intelectuais-celebridades, ganharia ares pop.
Foi na Paris de 1945, em um auditório com cadeiras disputadas a tapa, que Sartre afirmou, na conferência
O Existencialismo é um Humanismo, que o homem estava “condenado a ser livre”, ideia antes apresentada
em O Ser e o Nada (1943). Entre a obra filosófica e a conferência, outra frase sua, “o inferno são os outros”,
havia causado sensação, na estreia da peça Entre Quatro Paredes, em 1944, ainda com o país ocupado
[10] pelos nazistas. A liberdade, então, era tudo o que os franceses consideravam distante.
Em linhas gerais, a concepção sartreana da liberdade assentava-se no pressuposto de que o ser
humano é a única criatura para quem a existência (existir) é anterior à essência (ser). Quer dizer: o nosso
destino não é ______ pela natureza – muito menos, ele assinala, pela “inteligência divina”. “O que significa
dizer que a existência precede a essência?”, pergunta. “Significa que o homem primeiramente existe, se
[15] descobre, surge no mundo; e que só depois se define. O homem é não apenas como ele se concebe, mas
como ele quer que seja, como ele se concebe depois da existência, como ele se deseja após este impulso
para a existência.” (Não, a psicanálise não orna muito bem com esse tipo de pensamento.)
O ser humano, frisa Sartre, define-se pelo que faz, o que ele projeta ser, por suas escolhas. Daí em
diante, é preciso falar em consequências – tanto dessa ideia basilar quanto da própria liberdade avassaladora
[20] que ela anuncia. Em primeiro lugar, ela incorre no fato de que cada um de nós é total e integralmente
responsável não apenas por nossos atos, mas também por aquilo que somos. O que se desdobra em
outras e mais profundas consequências.
Em um mundo sem Deus e sem natureza humana, o homem é plenamente responsável não apenas
por si, mas também por todos os homens. Diz Sartre, “Não há dos nossos atos um sequer que, ao criar o
[25]homem que desejamos ser, não crie ao mesmo tempo uma imagem do homem como julgamos que deve
ser”.
Tratava-se, também, de rebater as acusações de que o existencialismo incitava as pessoas ao
“imobilismo”. Era bem o contrário: a ideia de que as escolhas individuais estavam conectadas à escolha de
uma imagem da humanidade seria fundamental para a ideia de engajamento que marcaria toda a obra e a
[30] trajetória de Sartre.
Na vida pessoal, Sartre também personificou o exercício radical dessa liberdade individual, com sua
distinção entre amores “contingentes” e amores “necessários”. Ninguém ignora, por exemplo, que a relação
aberta com Simone de Beauvoir, mais a opção militante de não ter filhos, era uma projeção de um ideário
de humanidade que contribuiu em muito para os fundamentos da contracultura e da revolução sexual. Mas
[35] eram escolhas que não estavam isentas de impasses, contradições e até certa crueldade. Ninguém falou
que seria fácil.
A ideia de que a liberdade é um peso não foi inventada por Sartre – ela já tinha sido enunciada ______.
Na formulação da ideia de livre-arbítrio, no século V, Santo Agostinho deixou clara a responsabilidade que
recai sobre o homem. Na política, o francês Étienne de La Boétie havia, no século XVI, apontado o dedo
[40] para o conforto da “servidão voluntária” como a razão da opressão dos Estados. Em Homem e Super-
Homem (1903), Bernard Shaw já tinha dito com todas as letras: “Liberdade significa responsabilidade. É por
isso que tanta gente tem medo dela.” Até o nosso senso comum (cristão) diz que é por aí mesmo.
Com Sartre e seu existencialismo, entretanto, o ______ é completo. A angústia da responsabilidade
é acompanhada do desamparo pelo peso adicional da ausência de Deus. E do desespero: isto é, pela
[45] ausência de esperança do homem de que sua escolha é a correta. Não há, diz o filósofo, uma moral geral
______ se guiar.
Pessimismo? Jean-Paul jura que fala de otimismo quando, ao aceitar que a vida não tem sentido
nenhum a priori, cabe a nós inventá-lo, pela ação. Em São Genet, Ator e Mártir (1952), ensaio sobre a vida
do escritor marginal Jean Genet, Sartre ilustrará esse modelo existencialista. Foi nesse texto caudaloso,
[50] exagerado como era de hábito, que cunhou outra frase que ficou famosa, síntese e legado para quem a
condenação à liberdade significava viver plenamente. “O importante”, escreveu, “não é aquilo que se fez do
homem, mas aquilo que ele faz daquilo que fizeram dele.”
Disponível em: http://bravo.vc/seasons/s05e01. Acesso em: 13 jul. 2021. (Adaptado.)
Assinale a alternativa que completa, correta e respectivamente, as lacunas nas linhas 13, 37, 43 e 46 do texto.
Pastas
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